Turbulência, coreografia de São Castro e António Cabrita, Teatro Camões, 10 a 15 de Novembro de 2016

Paulo Filipe Monteiro

13 de Novembro de 2016

Tenho de partilhar o que vi hoje: quando se assiste a um milagre há que assinalá-lo. António Cabrita e São Castro (que ganharam no ano passado o prémio SPA de melhor coreografia), em conjunto com Henriett Ventura e Xavier Carmo (o quarteto esteve este ano nomeado para o mesmo prémio) apresentaram Turbulência, no Teatro Camões. Ia a dizer que era perfeito, mas não que isso enjoa: era rara, totalmente invulgar a conjugação da prodigiosa invenção coreográfica com sete arrepiantes bailarinos, com o espaço cénico, a luz (Nuno Meira), o vídeo (Pedro Sena Nunes), a sonoplastia (São Castro), os figurinos (Tenente). Algo inumano ou pós-humano, “a sombra que dança”, diz o programa. Chorávamos por vezes um choro que não se sabia de onde vinha (não vinha de nós, não era pedido pelo espectáculo) nem para onde ia. A absoluta limpidez e a sua sombra. Parecia que estávamos a ver Deus face a face, ou o céu ou o inferno que não conhecemos.

Pena escrever isto depois da última apresentação – se não viram já não vão a tempo, agora só para escolas. Raiva também de não haver revistas onde se possa escrever o texto extenso que este espectáculo merece, o comentário de algo que aconteceu, imagino, ainda além das expectativas dos próprios criadores, o agradecimento do milagre.


Paulo Filipe Monteiro encenou 16 espectáculos de teatro e fez dramaturgia para espectáculos de dança. Como actor, participou em várias peças, longas-metragens portuguesas e estrangeiras telefilmes e séries de televisão. Escreveu 8 longas-metragens. Escreveu a peça de teatro Área de Risco (1999 FCG). Realizou os filmes Amor Cego (2010), Zeus (2017), que ganhou 12 prémios em Portugal e no estrangeiro, e Pas de Quoi (2020).
Professor Catedrático da Universidade Nova de Lisboa: fundador e coordenador do Mestrado em Artes Cénicas; coordenador da variante de Comunicação e Artes do Mestrado e Doutoramento em Ciências da Comunicação. Foi professor convidado em universidades da Europa e Brasil. Recebeu o Prémio Joaquim de Carvalho para o livro Drama e Comunicação (posteriormente reeditado no Brasil).

Print Friendly, PDF & Email