Arena, de Sílvio Vieira, Garagem do Chile, Lisboa, 25 de Novembro a 19 de Dezembro de 2021

Paulo Filipe Monteiro

05 de Dezembro de 2021

© Leonor Fonseca

“ARENA é um espectáculo de teatro sem palavra. Vive do jogo dos actores uns com os outros e com os objectos, revisitando a palavra play enquanto fundamento do acto teatral.” São só 40 lugares, por isso reservem e aproveitem.

Fez-me lembrar os primeiros espectáculos que encenei, à descoberta de tudo: a exploração do espaço não convencional, a invenção de códigos teatrais longe de receitas. É muito bom.

Mais físico do que metafísico, musical (partiram da 5ª sinfonia de Beethoven, que depois retiraram). Uma amiga disse no fim que o tinha achado demasiado comercial. (E Tati, é comercial?) Bem, numa primeira encenação (de Sílvio Vieira), com poucos meios e sobretudo sem palavras, não se pode esperar sair de lá como de um Bergman ou dos chilenos La Troppa, vizinhos do mesmo artesanato. Mas não é apenas bonito: deixa é ao público a possibilidade de muitas leituras e isso sabe bem, numa altura em que tantas vezes as artes são chamadas apenas para ilustrar ideias já feitas.

Na minha leitura, vi um espectáculo sobre a alteridade, o enfrentamento do outro, o crescimento inerente, os passos e dificuldades de descoberta da alteridade. Que outros possam ler de outra maneira, até me agrada imenso: eu, que sou pinabauschiano, gosto das coisas sem nome. (Podem ler, no Público, a leitura que Gonçalo Frota faz e os pressupostos do próprio encenador)

Por vezes, nos palcos ou nas plateias, sentimos alguns momentos em que a respiração do público parece parar: pois aqui é durante quase uma hora e meia que o público está sempre na expectativa de coisas novas – que vão sempre surgindo contra as suas expectativas. Um notável trabalho de invenção de imagens, visuais e sonoras.

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