David Le Breton

Comunicação do professor David Le Breton a partir do seu livro Rire. Une anthropologie du rieur (Métailié, Paris, 2018), apresentada no dia 9 de novembro de 2021, no Seminário Permanente em Performance & Cognição, vídeo disponível aqui.

O riso não exprime necessariamente alegria, nem mesmo a comicidade de uma palavra ou situação. O seu significado varia de acordo com as circunstâncias e os lugares. Embora se escreva no singular, o sentido do riso é sempre plural. Exprime a alegria pura, o bom humor, mas também a angústia, o sentimento de superioridade, o ódio, a vergonha, a timidez, o triunfo, a troça, a surpresa, o constrangimento, a polidez, a submissão, a incredulidade, o desdém, a soberba, o desafio, a vontade de manter as aparências ou de afastar uma emoção, etc. Alguns risos estão ligados à comicidade de uma história ou das circunstâncias, outros ao júbilo de existir, de brincar, de estar juntos, às cócegas, outros ainda ao alívio de ter escapado do perigo por um triz. Por vezes, o desaparecimento de uma restrição basta para provocá-lo. Assim, as crianças dispensadas de um dia de escola, correndo com exuberância rumo à liberdade reconquistada, riem por tudo e por nada.
Na maioria das vezes, o riso é júbilo, sabor de um instante, momento de partilha com os outros, uma grande fuga do pensamento, e as situações cómicas deleitam, a hilaridade é procurada de bom grado, especialmente em ocasiões festivas. Ele traduz a vitalidade, a exuberância da vida quando esta brota com toda a sua força, como na famosa sequência de Serenata à Chuva (G. Kelly, S. Donen, 1952) em que Gene Kelly dança sob o aguaceiro com um sorriso nos lábios. Henry Miller descreve uma cena próxima em Far Rockaway quando, pela primeira vez, sente uma necessidade interior de escrever que o perturba. A noite cai, as ruas esvaziam-se. Ele sente-se fervilhar de energia, de eletricidade. «Quando a chuva começou a cair e, de rosto obstinadamente erguido para o céu, a recebi como uma bofetada, comecei de súbito a berrar de alegria. A rir e rir e rir como um louco. Sem, evidentemente, saber porquê (…) Apenas transbordava de alegria, estava doido, doido de alegria perante a ideia de me encontrar inteiramente só.» (Miller, 1952, 252). Por vezes, o riso é um disfarce para esconder o constrangimento ou a contrariedade após o confronto com uma falha pessoal. Personifica, também, a resistência, um derradeiro esforço para mostrar orgulho quando tudo está perdido, uma maneira de não admitir jamais a derrota. Assim sucedeu, por exemplo, com o humor nos campos de extermínio da Alemanha nazi. Não podemos entender o riso analisando-o apenas sob o ângulo do risível.
Um dos motivos mais comuns do riso está ligado à sociabilidade, ao prazer de estar juntos que nos torna pouco sensíveis ao valor das brincadeiras recíprocas. Ele é a matéria-prima da maioria das relações sociais, sem que uma piada tenha necessariamente de ser contada. Quanto mais descontraída e jovial for a assembleia, mais os risos irromperão e unirão o grupo numa cumplicidade feliz. O grupo potencializa os sentimentos e acentua repetidamente o riso por meio de um efeito de contágio e de ritualidade do estar juntos. A amizade ou as relações de vizinhança levam à partilha momentos convencionais de riso a propósito da chuva ou do bom tempo, dos comportamentos incongruentes dos vizinhos, dos escândalos políticos, das férias, etc. Ele reforça as relações entre as pessoas em interação. Daí decorre a impossibilidade de brincar ou rir com alguém que se despreza ou de quem se discorda. É difícil forçar o riso. Custa-nos rir por decreto e, se o fizermos, o riso soa um pouco falso. Podemos reproduzir o seu som, mas não o seu jorrar. Porém, nem sempre rimos pelos mesmos motivos ou da mesma maneira, pois, apesar de tudo, o riso é eminentemente ritualizado. Não é uma emanação da natureza ou da biologia, mas de situações sociais particulares que os indivíduos aprenderam a associar ao riso. Quando um indivíduo ri, toda a sua sociedade se expressa também por meio dele. Com o seu tom pacífico, o riso é um suavizador do contacto, tal como o sorriso. Na maioria das vezes, é gerador de vínculos, até entre indivíduos que não se conhecem, pois dissipa os obstáculos. O sentido de humor é prova da lucidez de se ser quem se é e de que uma pessoa não pode levar-se inteiramente a sério. Trata-se de uma maneira feliz de uma pessoa se distanciar, de não se deixar enganar pela sua personagem e de se mover com ductilidade por entre as asperezas do tecido social.
Frequentemente, distinguem-se dois tipos de risos: os que expressam alegria e os que são prova de duplicidade, de zombaria, de crueldade. Um riso de aquiescência e um riso depreciativo. O hebraico possui duas palavras para qualificar diferentes tons do riso: sâkhaq, que se refere a um riso alegre, próprio do prazer de estar juntos, dá o seu nome a Isaac, e lâag, zombaria, escárnio. O grego também designa essas diferentes formas de riso por duas palavras distintas: gélân, riso de alegria, e katagélân, que se refere ao riso maldoso, agressivo. O latim possui apenas a palavra risus, que abarca indiscriminadamente todas as ambiguidades do riso (Le Goff, 1997, 452-453).
Impregnado de ambivalência, o riso mistura o racional e o dionisíaco, apelando à razão para a compreensão da comicidade de uma situação ou piada, ao mesmo tempo que dá lugar de destaque ao corpo. Na articulação entre sentido e orgânico, nem reflexo nem decisão voluntária, o riso é emergência do corpo, interrompe a circulação da fala, sempre marcada pela afetividade e por uma presença física, mas de forma discreta e previsível. No riso, o corpo assume o controlo, através do tremor da pessoa subitamente sacudida por estremeções, da respiração entrecortada, de borborigmos. Turbulência passageira que liberta por um instante das exigências de identidade e do protocolo, ele personifica uma breve e bela fuga das rotinas quotidianas. Ele «rebenta», sendo certo que por vezes se contém, mas desmonta o corpo completo, fechado, delimitado, polido, da vida quotidiana, estilhaça as identidades pacíficas e confortáveis. Abre uma janela para fora do mundo da conveniência, uma fuga das limitações, e é contagiante. Certamente, também ele responde a uma ritualidade, é partilhado, mas garante um triunfo provisório do corpo e reduz a palavra a soluços. Emanação de um rosto frequentemente descrito pelos inimigos do riso como distorcido, desfigurado, ele dissolve a sua seriedade e sacralidade. O riso é simultaneamente uma expressão visual e oral. Ressoa nos gestos, na postura, na atitude. Apodera-se por inteiro da pessoa que ri.
Inúmeras metáforas insistem na dimensão física do riso e na dissolução temporária de toda a conveniência: uma pessoa mija-se a rir, ri até fazer chichi nas cuecas, dobra-se em dois, ri até cair, tem uma barrigada de riso, ri aos soluços, incha de rir, desmaia de tanto rir, contorce-se de riso, está morta de riso, fica corcunda de tanto rir, ri que nem doida, que nem uma corcunda, que nem uma maluca, que nem louca, ri até perder o fôlego, ri à tripa-forra, sufoca de riso, sufoca uma gargalhada, retorce-se de riso, descabela-se a rir, ri alto e bom som, torce-se de riso, dobra-se em dois ou em quatro, rebola a rir, agarra-se à barriga de tanto rir, ri com gosto, arreganha a tacha, ri de tacha arreganhada ou até lhe saltar o maxilar, ri até as lágrimas, chora a rir, desmaia de tanto rir, sufoca uma gargalhada, explode numa gargalhada, é sacudida por gargalhadas, ri até rebentar as ilhargas, rebenta ou explode de riso, parte-se a rir, desmancha-se a rir, escangalha-se a rir, desconjunta-se a rir ou parte o coco a rir, ri até fartar, e um comentário faz uma pessoa torcer-se de riso, ajuda a desopilar ou provoca um riso descabelado. Por vezes, a evocação remete para a animalidade: damos umas ferroadas, zurramos (do francês antigo: rechaner: zurrar), cacarejamos, rimos como uma baleia ou uma hiena.[1]
O riso é composto de explosões múltiplas que ricocheteiam umas nas outras em gargalhadas sem fim. É composto de inúmeras e ambivalentes camadas de sentido. Não tem fórmula de fabricação, mas uma miríade de matrizes. «Sou naturalmente prudente», disse Groucho Marx, «e não tenho o desejo nem o poder de analisar o que faz com que um homem possa fazer rir outro. Li muitos livros escritos por reputados especialistas que desconstroem a mecânica do humor e tentam explicar o que é engraçado e o que não é. Mas duvido que um único comediante saiba verdadeiramente o que provoca o riso a certa pessoa, mas não ao seu vizinho» (1981, 75). Conhecemos as palavras de Pierre Dac que se aplicam a qualquer tentativa de definir o riso: «Aqueles que nada sabem, sabem sempre tanto quanto os que não sabem mais do que eles». Um exegeta oferece o seu comentário à Bíblia a um ancião. Regressa no ano seguinte e pergunta-lhe se o seu livro o ajudou a compreender melhor o texto sagrado. Mas o ancião responde que sucedera o contrário: fora a Bíblia que o ajudara a compreender o livro dele. Por outras palavras, a explicação do riso deve fluir da sua fonte para se dissolver, precisamente, no riso, tarefa impossível.

Ataque de riso

No decurso da vida quotidiana, estamos permanentemente à mercê de um ataque de riso que se desencadeia de forma inesperada devido à tensão inerente a certas situações sociais graves. Ele surge aí onde é essencial manter a seriedade, aí onde o riso, precisamente, é proibido. Jorra até em contexto doloroso, motivado pela incongruência de um comentário ou de um comportamento que liberta a tensão acumulada. A autocontenção é impossível. É um ataque, porquanto isento de toda a civilidade, de todas as expectativas sociais, e é necessariamente impudente para quem o testemunha. As ritualizações mais sérias são atingidas em cheio pela fuga de um desgraçado que já não consegue conter-se. O riso, aqui, raramente é feliz. O seu autor tenta desesperadamente interrompê-lo, bem sabendo que a situação é comprometedora e terrível para si e para as pessoas que pensam que estão a rir-se delas. Ele não ignora as possíveis represálias que o esperam, nem as feridas que inflige. Perde o controlo sobre a sua apresentação social e expõe-se ao julgamento dos outros. Uma das memórias mais sombrias da minha infância é a da cólera violenta que suscitei num velho professor de reputação terrível, a quem a raiva fizera lançar perdigotos sobre o quadro. Ante a sua progressiva humilhação, fui, como tantas vezes naquela época, acometido de um ataque de riso irreprimível, a par de um sentimento de inevitabilidade. Estava aterrorizado, mas a onda de risos tomou conta de mim. Essas gargalhadas pontuaram a minha infância. Ainda oiço as vozes furiosas que mas censuravam e recordo as horas e horas de punição passadas de pé, frente a fogões acesos durante o inverno ou circulando no recreio com um cartaz preso nas costas que dava conta da minha indignidade, isto para não falar das incontáveis reguadas nos dedos.
O ataque de riso é um incidente temível na vida quotidiana, pois causa-nos humilhação e, principalmente, causa-a aos outros sem justificação possível, ainda que frequentemente seja visto como um incómodo temporário e perdoável. Numa carta a Felice, de janeiro de 1913, Kafka relata um acontecimento deste tipo que o colocou, contra sua vontade, numa situação difícil. Nesse dia, juntamente com dois colegas de escritório que também tinham conseguido uma promoção, todos eles em seus trajes de cerimónia, Kafka encontra-se diante do presidente do instituto onde trabalha, um homem respeitado e austero. Um dos promovidos, muito sério, faz um discurso de agradecimento, que o presidente escuta com solenidade. Kafka nota, de repente, a barriga proeminente do diretor. Este súbito irromper do corpo na sacralidade do momento distrai-o e ele sente, com horror, um riso crescer dentro de si, que tenta em vão reprimir simulando espirros. O presidente, ao erguer os olhos para iniciar o discurso da praxe, «viu a minha expressão e facilmente percebeu que o riso que me escapara dos lábios, para meu pesar, não fôra de modo algum um acesso de tosse». O presidente não dá parte de fraco. Sem fazer caso da confusão, começa casualmente a sua alocução. A situação agrava-se devido à infeliz atitude de um colega que tenta chamar Kafka à ordem. «Não pude conter-me e vi desvanecerem-se todas as minhas esperanças de conseguir controlar-me.» Aos poucos, o ataque de riso toma conta do auditório; apenas o presidente permanece impassível. A cerimónia prossegue apesar dessas vagas de turbulência. Um outro colega toma a palavra, por sua vez, e atrapalha-se. Os diques rebentam: «Explodi numa gargalhada sonora, brutal (…) Todos se calaram e eu, com o meu riso, tornei-me enfim no reconhecido centro das atenções. Por causa disso, claro, os joelhos tremiam-me de medo enquanto ria e, por seu lado, os meus colegas podiam agora rir até fartar». O presidente, perplexo, tenta fazer cara alegre, «encontrou uma frase para dar aos meus urros uma qualquer explicação humana, relacionada, creio eu, com uma piada que contara há muito tempo. Depois disso, apressou-se a despedir-nos» (1972, 260 ss.). Sair de tal situação de cabeça erguida é uma arte sociológica.
O riso que às vezes transparece nos funerais deve-se a esse sufocar da emoção perante a gravidade de um momento subitamente perturbado por uma incongruência. As tensões acumuladas soltam-se repentinamente num riso incoercível. As cerimónias fúnebres das nossas sociedades são os lugares mais propícios e menos recomendados para a explosão de ataques de riso que não exprimem alegria alguma. Colette descreve dolorosamente o cortejo que conduziu seu pai ao cemitério e, especialmente, o colapso de sua mãe, que ia falando baixinho com ela ao longo de todo o caminho, ao lado do caixão. Depois, de volta a casa, numa sala impregnada de silêncio e dor, «entrou um gatinho, cauteloso e ingénuo, um gatinho vulgar e irresistível de quatro a cinco meses… Um salto arriscado, que nada fazia prever, projectou-o numa cambalhota até aos nossos pés… E ria, a minha mãe enlutada, ria com o seu riso agudo de menina e batia palmas em frente ao gatinho» (Colette, 1960, 128). Num contexto emocionalmente pesado, nada como um peido ou arroto para desencadear uma onda de hilaridade incontrolável. Evidentemente, o ataque de riso é também contagiante num grupo de amigos cujas gargalhadas se revezam durante bons momentos de diversão.
Mas o riso aparece também em momentos trágicos, como uma libertação brusca de tensões insuportáveis. No processo de Praga, em 1952, são indiciados membros do Partido Comunista que ofuscam a presidência estanilista da Checoslováquia da época. O objetivo é também dar bodes espiatórios a uma população sem fôlego. Esses homens são acusados de «conspiração contra o Estado». Num dos momentos mais trágicos do processo, um deles, que testemunha, emaciado devido aos maus-tratos e à prisão, Sling, deixa cair as calças. «O espetáculo cómico do nosso camarada em cuecas desencadeia entre nós um riso homérico, histérico. O nosso amigo Sling é o primeiro a sufocar uma gargalhada enquanto puxa as calças para cima e tem muita dificuldade em continuar o seu testemunho» (London, 1968, 301). Os co-arguidos são arrebatados pela turbulência. «O riso toma conta da assistência e dos membros do tribunal. O procurador esconde o rosto atrás de um jornal totalmente aberto. Os membros do tribunal enterram a cabeça nos seus dossiês». Os guardas chiam tentando conter-se». Já ninguém escapa a esse riso. Todos se encontram sob a pressão estalinista, os membros do tribunal cientes do logro que devem homologar ao condenarem em breve à morte onze dos arguidos, incluindo Sling, e os restantes à prisão perpétua, e estes cientes do destino que os espera nesta farsa trágica. Num tal clima de tensão extrema, o riso é como uma careta irónica, mas que permite uma espécie de catarse grotesca.
O riso parece incontrolável, «irrompe» subitamente. Porém, como dissemos, nunca é um reflexo, é sempre uma reflexividade, inscrita, portanto, num contexto social. Contém-se para não magoar ou para evitar chamar sobre si uma atenção incómoda. Podemos ostentar um indulgente riso cúmplice ao assistirmos a uma cena engraçada no passeio, de modo a exibirmos a nossa largueza de espírito, ou seguir caminho sem perder o ar sério, por não termos com quem partilhar a cena. Rimos «baixinho» ou «em segredo» quando nos esforçamos por não sermos notados ou, pelo contrário, rimos com exuberância para significar desprezo ou repúdio de uma pessoa ou situação. Rimos de palavras espirituosas ou de brincadeiras ouvidas mil vezes em grupo, por conivência, por polidez para não incomodar ou para demostrar a nossa amizade com o autor da piada. Poderiam aqui ser dados muitos exemplos para atestar o controlo reflexivo exercido de forma mais ou menos acentuada pelos indivíduos em causa, dependendo do contexto da sua interação. O riso é sempre circunstanciado, breve ou volúvel, discreto ou tonitruante, às gargalhadas ou no limiar de um sorriso, ajustando-se à situação, de acordo com a impressão que o indivíduo pretenda dar de si mesmo e sem forçamente pensar nisso. Aquilo que nos faz rir por um instante, por exemplo, a queda ridícula de um transeunte que passeava na rua com uma espécie de solenidade arrogante, provoca um riso que cessa de imediato ao descobrirmos que o homem tem ar de estar gravemente ferido ou que se trata de uma pessoa chegada que não reconhecemos imediamente. Uma pessoa isolada que ri às gargalhadas sozinha no autocarro ou no comboio é uma figura insólita ou inquietante, já não participa nas ritualidades físicas comuns.

Polícia do Riso

O riso como instrumento de desprezo é o fio condutor da sua denúncia pelos filósofos desde Aristóteles. Esse uso, que visa rebaixar o outro, fazer pouco dele, é, muitas vezes, o argumento daqueles que estigmatizam o riso no seu todo, descrevendo-o apenas sob esse ângulo. Essa abordagem é teorizada principalmente por Hobbes, que coloca o riso sob a égide da degradação do outro, nascida do sentimento de superioridade daquele que ri.
Existe um riso impiedoso e sem nuance na afirmação de uma superioridade pessoal. Ele alimenta as inúmeras situações de assédio de que são vítimas alunos de colégios e liceus.2 Rimos com os outros, mas de uma pessoa ou um grupo. Qualquer pessoa que se destaque pela sua aparência, atitude, diferença, é espezinhada como um bode expiatório, de forma brutal ou atenuada. Serva do risível, é ridicularizada para que regresse ao «caminho certo», do qual se desvia pelo seu amor ao estudo, pela sua aplicação, pelo seu sucesso, pela forma do seu corpo, pelo seu nome, pela sua origem cultural, pela sua religião, pela sua enfermidade, pela sua orientação sexual ou por causa do seu irmão com Síndrome de Down ou seu pai alcoólico, etc.
O medo de se tornar motivo de troça para os outros funciona como firme prevenção social, contrapondo-se a qualquer originalidade. A polícia do riso é um exorcismo da diferença sentida como intolerável. Lembra ao outro que não deve levar longe demais a sua singularidade, sob pena de incomodar. Não chamar a atenção sobre si mesmo é a melhor garantia de não se tornar uma vítima sacrificial. O riso aí expresso marca o triunfo daqueles que são bons em todos os sentidos e que mostram o seu orgulho face aos que consideram indignos. Exprime um julgamento de forma agradável ou agressiva, usando luvas que às vezes escondem um punho de ferro para manifestar desprezo ou atacar um grupo ou uma pessoa. Nessa sua variante, o riso é socialmente conservador, submetendo o indivíduo à pressão do grupo, troçando antecipadamente de quem procura desviar dele, à luz, é claro, da definição do próprio trocista arvorado em retificador de erros e guia de consciências. Destrói o sentido de identidade de quem é ridicularizado, pois causa humilhação, danos à autoestima e marginalização.
O riso «é no homem a consequência da ideia de superioridade», diz Baudelaire (1971, 307). Trata-se de reforçar o seu valor pessoal, não através da sua própria obra, mas pela degradação do outro, expondo-o eventualmente ao escárnio público para não deixar na sombra a sua fraqueza, a sua falta de jeito ou um sucesso que provoca ressentimento. Rir de uma situação socialmente incongruente é uma forma de lembrar a ordem do mundo: há coisas que não se fazem ou não se dizem sem uma pessoa se expor ao ridículo. Por inadvertência, distração ou provocação, alguém transgride os limites da civilidade, até do bom gosto. Essa pessoa não é sancionada, mas ridicularizada, o riso com que é confrontada sublinha a sua fuga da estrutura comum de significado e ritualiza assim a indecência, ao mesmo tempo que dá um bónus de prazer a quem testemunha a cena ou a história contada. Dá-lhes a satisfação de estarem do lado certo. O medo da troça é uma forma de prevenir qualquer excentricidade, ou qualquer excesso, ou pelo menos uma ameaça brandida contra aqueles que temem o ridículo.
O riso está, portanto, ao serviço dos «empreendedores morais» (Becker, 1985). Os que não suportam outras formas de viver, pensar ou sentir que não as suas. Os trocistas usam o escárnio em vez de força física para mudar os comportamentos ou a aparência que desaprovam nos outros. Encontram conforto fácil na sua exemplaridade. Não têm nem as falhas físicas, nem a moralidade ou religião, nem as características físicas daqueles de quem se riem. Estão livres, ou pelo menos nisso acreditam, de toda a troça. A sua é uma posição de força, sobretudo se a vítima não estiver presente ou não puder defender-se, o riso é vingança, dilui o ressentimento na hilaridade. Mas isso fere a dignidade, humilha. Ele é também um poder. Exerce uma vigilância discreta, mas eficaz, e convida cada um dos seus membros à discrição, ao respeito pelos valores comuns como forma de não se exporem à mesma troça. É uma intimidação e uma ameaça que ninguém quer enfrentar. É melhor ter do seu lado os que riem do que ser motivo de riso. O riso é uma maneira de formar um grupo através da exclusão temporária de um desajeitado ou intruso. Desqualifica um indivíduo ou uma situação, rebaixa-o provisoriamente e em segurança num contexto de amizade ou, pelo contrário, de forma brutal, com intenção de destruir, num contexto de desprezo ou ressentimento. A piada sobre um comportamento ou sobre estranhos é um aviso para aqueles que se pudessem sentir-se tentados a imitá-los ou a persistir nas mesmas atitudes. Como diz Baudelaire, «o homem morde com o riso» (1971, 302). Relembremos a frase mordaz de Victor Hugo em L’homme qui rit [O Homem que Ri]: «Fazer mal alegremente, não há multidão que resista a esse contágio. Nem todas as execuções se fazem em cadafalsos, e os homens, logo que reunidos, seja em multidão ou em assembleia, têm sempre entre si um carrasco pronto, que é o sarcasmo.»
Esse uso social do ridículo como meio de controlo social pode ser encontrado noutras sociedades humanas, onde o desvio das expectativas comuns se traduz menos em punição ou culpa do que em ironia de grupo. Robert Lowie descreve assim a pacífica e eficiente atitude de grupo entre os índios Crow em relação ao homem que acaba de se tornar culpado de uma entorse aos padrões morais comuns. Ninguém objeta, mas à noite, quando estão todos reunidos, alguém dá voz ao sentimento do grupo: «Ouviram falar do que fez fulano?» Explodem então as gargalhadas e os atos do culpado são comentados de forma mordaz. Ele é humilhado diante da sua comunidade e o ridículo é tão forte que, por vezes, a abandona, antes de regressar para se redimir (Klineberg, 1967, 217).
Os inuit são conhecidos pela sua propensão para o riso e ausência de violência. Uma das suas instituições sociais reveladoras a esse respeito consiste num duelo de riso entre dois indivíduos em desacordo (Eichberg, 2010, 324 ss.) Toda a aldeia assiste aos jogos e avalia as prestações. Os dois homens confrontam-se com canções e gestos de ameaça, mas sem nunca passarem à ação, acusam-se mutuamente, violam os códigos habituais de civilidade pela proximidade física, a sua mímica agressiva visar fazer com que o adversário perca a compostura, as suas palavras procuram ridicularizar. A comunidade incentiva o jogo com gargalhadas. É a juíza do litígio. Acontece um dos oponentes ser humilhado no decurso do duelo e deixar a aldeia. Mas a solução mais comum é a reconciliação dos adversários, uma vez dissolvidas as tensões por meio dos gracejos e da dança. Toda a assembleia participa da mesma catarse em que são evocadas histórias individuais ou familiares, mas sempre com moderação, pois se um dos duelistas vai longe demais, é condenado pela multidão.

Universalidade do riso, mas não dos motivos para rir

O riso é uma convenção social, se está ligado à comicidade de uma situação ou piada, é uma forma de conexão com os outros. O humor ou as situações cómicas estão sempre envoltos nas malhas da história e de uma cultura, ou melhor, numa teia comum de significado e valor. Os jogos de palavras ou os efeitos cómicos numa língua exigem um bom conhecimento do seu uso e do seu espírito. Saber rir numa língua estrangeira é algo reservado a quem está familiarizado com ela. Além disso, o que era motivo de riso em dada altura já não o é para as gerações subsequentes, novas formas vão aparecendo, o riso enraíza-se na história. Ler piadas antigas deixa-nos muitas vezes pensativos quanto ao que os nossos antepassados veriam nelas de tão engraçado. Muitas situações cómicas ou piadas evocadas por Bergson ou outros escritores do pós-guerra, por exemplo, são uma leitura surpreendente hoje em dia, suscitando apenas indiferença. As da antiguidade, apontadas por autores como Cícero ou Quintiliano, ou reunidas no Philogelos, ou posteriormente, citadas no tratado de Castiglione, parecem-nos bastante sem graça. Cada época engendra um risível diferente. Os códigos mudam; os objetos, os alvos habituais, as zonas de intocabilidade, deslocam-se. O cómico de uma época expira rapidamente.
O risível de uma é, por vezes, o intolerável de outra. A mesma história engraçada provoca reações muito diferentes, dependendo do contexto social ou cultural. O facto de o riso não ser universal quanto aos motivos que o provocam foi ilustrado, nomeadamente, pelas manifestações que levaram muitos muçulmanos às ruas após a publicação, em setembro de 2005, num jornal dinamarquês, de doze caricaturas em torno do Profeta, que pretendiam denunciar através do riso a perversão da sua imagem por fundamentalistas, cuja virulenta reação é conhecida, levando a mais de uma centena de mortes em diversos países, à destruição de igrejas e embaixadas. Esses desenhos foram acusados de blasfémia em países onde, paradoxalmente, a blasfémia não existe. F. Boespflug, do ponto de vista de uma moral cristã difícil de entender para o Islão radical, escreve a esse propósito: «A pior caricatura moral de Deus, a mais irreligiosa, a que realmente o desfigura, e que nada justifica, nem mesmo as piores caricaturas pictóricas de Deus, é matar o homem feito à imagem de Deus». Nas nossas sociedades, Cristo foi caricaturado muitas vezes sem que ninguém se ofendesse. Em rigor, as caricaturas satíricas não atingem Deus, se se estiver convicto do seu poder e da sua misericórdia, atingem apenas as sensibilidades individuais, e em particular os fundamentalismos que afirmam “proteger” Deus melhor do que ele mesmo. Os fundamentalistas aferrolham o riso e veem nele, por princípio, um insulto, dada a gravidade que consideram necessária no relacionamento com o divino.
Além disso, para os valores ocidentais, o assassinato da equipa do Charlie Hebdo a 7 de janeiro de 2015, insere-se numa lógica diferente, que não assenta já na argumentação ou no humor, mas no assassinato. Naquele dia, assassinos fanáticos entraram nas instalações do Charlie Hebdo e mataram onze pessoas que participavam de um conselho de redação. Em seguida, alvejaram um polícia na rua. No volume que surge após o massacre, Luz desenha na capa o Profeta segurando uma folha de papel onde está escrito: «Eu sou Charlie» e afirmando: «Tudo está perdoado». Por todo o mundo, desenhos denunciam a intolerância de forma amarga ou crítica, ofensiva ou matizada, inúmeros desenhos apresentam um humor melancólico, mais aberto ao sorriso do que ao riso, para manifestar solidariedade com os membros da equipa. Um desenho afirma que «Deus é humor». Outro dá a palavra ao Profeta: «A mim, os vossos desenhos fazem-me rir». Outros afirmam que «Alá é grande o suficiente para defender Maomé sozinho» ou um homem ajoelhado empunha o seu lápis como uma arma: «Diante da barbárie, use armas de derrisão maciça». O riso continua a desafiar os assassinos. Sem lamentações, ainda que os desenhos estejam impregnados de uma tristeza infinita, mas uma réplica taco a taco e com humor para prosseguir a luta contra os fundamentalistas.

Rir contra o medo

Em Spanish Testament [Testamento Espanhol], A. Koestler relata as inúmeras execuções perpetradas pelas tropas de Franco na prisão onde ele próprio foi prisioneiro. Uma noite, ouve abrir a porta de uma cela perto da sua. Com voz sonolenta, o preso pergunta o que se passa e entende que o guarda veio buscá-lo com um padre para o fuzilar. Mas desata a rir, recusando-se a acreditar numa situação tão impensável. «Estão a brincar comigo», diz ele ao padre. «Percebi logo que se tratava de uma piada». Mas o guarda explica-lhe que não. O riso do homem é estrangulado. Poucos minutos depois, o homem é morto. (Koestler, 1992, 219). Soldados poupados pela explosão de bombas que matam vários camaradas seus riem até perder o fôlego (1954, 717). Uma mistura de terror e alívio projeta-os para fora de si mesmos, como que siderados. Quando as palavras faltam ou a voz sufoca diante da indignação ou do medo, resta o choro um o riso destituído de qualquer dimensão comunicativa, girando no vazio, puro nervosismo incontrolável. Destruição da linguagem articulada, diante de uma situação que deixa sem fala. O indivíduo perde o equilíbrio, afrouxa todas as restrições da representação social. Colapsa, com as mãos frequentemente pousadas sobre a face que perde juntamente com a voz e o enraizamento no mundo. O riso nervoso é um abismo sonoro distante do habitual regime de significado que a palavra acarreta, mas é significado a um outro nível, na medida em que traduz o medo, a angústia, a surpresa, a deceção, etc. A situação ultrapassa as palavras e a capacidade da linguagem, colocando todo o discurso em causa. O riso do terror está do lado do corpo, da tetanização do sentido, quando os marcos se despedaçam e apelam a uma anterioridade da linguagem. Sinaliza o colapso do simbólico e a queda da linguagem no vazio, a deslocação da voz por não haver mais transmissão possível, os limites da linguagem são atingidos pelo acontecimento (Le Breton, 2011).
O riso é como uma borracha que apaga a aspereza das circunstâncias e dá novo fôlego. Lamine é um soldado argelino, um dos poucos não muçulmanos no exército. Um dia, é preso por suspeita de uma conspiração imaginária e encarcerado durante três anos, ao longo dos quais lhe colocam elétrodos nos órgãos genitais, o pontapeiam com botas, o borrifam com água gelada, submetem a muitos maus-tratos, para que confesse os nomes dos seus cúmplices. «Uma manhã, enquanto esses homens preparavam os seus elétrodos, Lamine desatou a rir às gargalhadas. Dera-se conta de uma verdade essencial (…) Ou eles o matavam ou deixavam de torturá-lo. Num caso como no outro, isso deixara de lhe importar. Era livre» (Moorehead, 2006, 275). As torturas são ainda mais avassaladoras, mas agora sente-se invulnerável. Será então libertado por falta de provas.
Durante a década negra na Argélia, enquanto os fundamentalistas multiplicam os massacres, o comediante Fellag está desesperado, mas não renuncia à arma do riso. «Às vezes, alguns minutos antes do espetáculo, choro, sozinho, nos bastidores. Penso nas vítimas dos massacres, nos meus amigos mortos por causa das suas ideias, em todas as mulheres que lutam pela sua liberdade e nos jovens hittiste (desempregados). Murmuro: «É por vós que atuo! Seco as lágrimas e subo ao palco.» (Fellag, 1999, 160). «Rio para não morrer» (Fellag, 1999, 160). O riso é o pêndulo que permite atravessar o abismo das circunstâncias sem afundar. O riso protege da aflição ou do medo, é a elegância final da razão para não ceder à gravidade do acontecimento e manter a consciência desperta. O sentido de humor é um desapego silencioso que corrói a possível virulência dos eventos. Ainda que tudo esteja perdido, é uma fuga da angústia, uma recusa de deixar que a sua conduta seja ditada por eventos externos. Ele afirma a insignificância da agressão para a vítima: «deixa-me rir». Quebra o sistema de humilhação participando dele a contracorrente e, portanto, subvertendo-o.
O riso surge, por vezes, de uma situação sem saída que abala nervosamente os intervenientes. A impotência é total, não se pressente qualquer terreno comum. Todos os argumentos chocam com a mesma recusa, o compromisso é impossível. Não há forma de chegar a um acordo e, no entanto, um dos protagonistas não aceita partir sem perder tudo, e então persiste. A tensão não para de aumentar e culmina num ataque de riso que permite finalmente a libertação. Nicolas Bouvier e Thierry Vernet estão em Teerão na década de 1950, sem um tostão. São recebidos pelo diretor de um Instituto Franco-Iraniano com pouca vontade de pôr mãos à obra. Um propõe conferências, o outro uma exposição de fotografia. O homem mostra-se inflexível, já arrasado com a ideia do esforço que teria de fazer se aceitasse. Os dois homens insistem, tomados pelo desespero. «O calor era sufocante; estávamos de estômago vazio e ofegantes de deceção. Era absolutamente necessário encontrar uma abertura antes que este vaudeville se transformasse em confusão. O nervosismo encarregou-se do assunto: como nos eram apresentadas, como contra-argumento, algumas lâmpadas quebradas na sala de exposições, Thierry soltou uma gargalhada calorosa que senti, com terror, arrastar-me como uma vaga. Eis o diretor desconcertado e nós, de lágrimas nos olhos, tentando entre duas sufocações fazê-lo compreender, por meio de gestos, que não é ele a causa da nossa alegria». Felizmente, o homem não quer sair humilhado, pelo que se associa aos risos deles. E, milagrosamente, a situação desanuvia: «Quando a secretária, espantada, abriu uma fresta da porta, ele fez sinal para que trouxesse três copos e, quando recuperámos o fôlego, tudo se alterara. Um raio de sol iluminava o tapete. Thierry iria expor dentro de duas semanas; eu faria a apresentação numa conversa» (Bouvier, 1992, 202).
O riso dissolve as tensões sociais por meio da liberdade de tom que de súbito introduz. Nicolas Bouvier explica ter compreendido nesse dia, junto ao diretor do Instituto, que o riso poderia tirá-lo de embaraços, ser uma ferramenta preciosa para um viajante como ele. «Desde então, guardei sempre algo engraçado para murmurar para mim mesmo quando as coisas correm mal; quando, por exemplo, os funcionários da alfândega, olhando para o seu passaporte caducado, decidem o seu destino numa língua incompreensível e, após algumas intervenções mal recebidas, ousa erguer os olhos dos seus sapatos. É então que um trocadilho absurdo, ou a recordação de circunstâncias que não perdem a graça, pode ser suficiente para lhe restaurar o ânimo e até fazê-lo rir alto e bom som, sozinho no seu canto, e os fardados – é a vez deles de não entenderem – olharem para si com perplexidade, questionando-se com o olhar, verificando a braguilha, e porem um ar sério…» (1992, 204). Os funcionários da alfândega cedem diante de um personagem tão singular e imprevisível e temem a humilhação. O riso é uma arma secreta em tempos de adversidade.

1- N. de T: No original, o autor elenca diversas expressões idiomáticas francesas usadas para exprimir o riso e que são compostas por palavras que, em determinada aceção, assumem uma conotação física. Dada a especificidade destas expressões no contexto da cultura e língua francesas, nem sempre é possível encontrar equivalente em português. Tentou-se, assim, fazer uma adaptação, recorrendo a expressões idiomáticas portuguesas próximas em termos da imagem que convocam ou, na sua ausência, a expressões sem cariz idiomático mas que veiculam a ideia do original, mantendo a tónica na corporeidade. No original, pode ler-se: «De nombreuses métaphores insistent sur la dimension corporelle du rire et sur la dissolution provisoire de toutes convenances: on pisse de rire, on rit à en pisser dans sa culotte, on est plié en deux, on se tape le cul par terre, on se bidonne, on hoquette, on se gondole, on se pâme, on se boyaute, on crève de rire, on se paye une bosse, on rit comme un dératé, un bossu, un tordu, un fou, on rit à en perdre le souffle, à ventre déboutonné, on étouffe de rire, on pouffe, on se tirebouchonne, on se poile, on s’esclaffe, on se tord de rire, on est plié en deux ou en quatre, on se roule par terre, on se tient les côtes, on rit à gorge déployée, de toutes ses dents, à belles dents ou à s’en décrocher la mâchoire, on rit aux larmes, on pleure de rire, on se pâme, on pouffe, on éclate de rire, on est secoué de rire, la rate se dilate, on pète ou on crève de rire, on se fend la gueule, la pipe, la tronche, la margoulette, la poire ou la pêche, on rit gras, un propos est tordant, désopilant, ébouriffant, poilant, on se paye une tranche, ou une pinte… Parfois l’évocation renvoie à l’animalité: on parle d’une saillie, on ricane (de l’ancien français : rechaner : braire), on glousse, on rit comme une baleine, comme une hyène.

2-  N. de T.: No sistema de ensino francês, os colégios (collèges) e liceus (lycèes) abrangem, respetivamente, os anos de escolaridade correspondentes aproximadamente ao 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e ao ensino secundário no ensino português.

Traduzido de francês por P&C/ICNOVA (apoio de Nicolle Vieira e Gustavo Antunes); consultoria Joice Aglae (PPGAC/UFBA)

Revisão de Adriana Barreiros

Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia” no âmbito do projeto Refª: UIDB/05021/2020.

 


David Le Breton é professor de sociologia na Universidade de Estrasburgo. Membro do Instituto Universitário de França e do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Estrasburgo (USIAS). Autor de Rostos. Ensaio de antropologia (Vozes), Desaparecer de si (Vozes), Antropologia do corpo (Vozes), Antropologia das emoções (Vozes), Antropologia dos sentidos (Vozes), A sociologia do corpo (Vozes), A adolescência (SESI-SP), Antropologia da dor (FAP-UNIFESP), Adeus ao corpo (Papirus), Condutas de risco. Dos jogos de morte ao jogo de viver (Autores Reunidos), obras publicadas no Brasil; e de Compreender a dor (Estrela Polar), Do silêncio (Instituto Piaget), e Sinais de identidade. Tatuagens, piercings e outras marcas corporais (Miosotis) publicadas em Portugal.


 

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